Essa noite eu sonhei com meu possível futuro – digo possível
porque diante dos últimos diagnósticos viver é incerto. Sonhei com a razão da
minha vida, a minha força diária. No sonho contemplava uma paz tão grande que a
sensação era de que o mundo havia parado só para que eu pudesse viver aquele
momento mágico. E de forma não muito lógica em um instante estava grávida, com
um barrigão e em outro já podia observar meu filho (no sonho era menino) correndo
e brincando no jardim da casa dos meus pais, essas cenas me remeteram à minha infância.
Que paz! Que saudade da minha vida de verdade, quem me dera poder viver tudo de
novo... Quem me dera poder criar expectativas e fazer planos. Eu sonhei com o
amor e ele explodia em meu peito.
Ontem pela
manhã o Dr. Rodrigo Mattos veio conversar comigo e minha família para
apresentar minha atual situação em relação ao LMA. As notícias não foram nada
boas, o câncer está em processo de metástase, minha imunidade está baixíssima e
o meu organismo não respondeu bem ao primeiro ciclo de quimioterapia. Diante de
tais fatos não preciso nem citar o quanto minha família está abalada, o quanto
o André esta sem chão. Foi tudo tão rápido, em meses minha vida se transformou
e está por um fio. Não quero perder as esperanças e nem vou fazer um post aqui
repleto de lamentações relatando todo o meu habitual sofrimento. Quero ser
realista e possibilitar a continuidade da minha vida em meu filho, e para isso
tomei uma decisão muito importante e que deixou minha família ainda mais
emocionada. Decidi documentar a autorização de gestação de substituição pot mortem
do embrião que está na clínica de reprodução humana.
Hoje
cedo eu e minha família já nos reunimos e conversamos com uma equipe médica que
veio da Clínica de Reprodução para prestar todo o apoio e esclarecimento sobre
tal fato. A legislação permite que o útero que gestará o embrião tenha
parentesco consanguíneo até 4º grau e que todas as partes devem ser citadas e
assinar o documento em conformidade. Após a reunião André que já possui uma
procuração de plenos poderes em meu nome foi providenciar os papéis e logo a
tarde assinamos. No documento consta a autorização para que ou a minha irmã
Júlia ou a minha mãe possa ser o útero de substituição caso o pior aconteça
comigo. Confesso que não foi fácil tomar essa decisão e que minha família não aceitou
de imediato, claro que não quero que o pior aconteça comigo e vou lutar com
todas as forças que ainda me restam para que eu me cure, mas depois do sonho
que tive eu quero que meu filho nasça independente de eu estar viva ou não. Só
de pensar nele me sinto em paz e alcanço a plenitude. O nascimento dele não pode
depender de mim, essa vida tem que existir mesmo que eu não esteja mais por
aqui, ele é um pedaço meu que vai dar continuidade a tudo. Mesmo antes de nascer
– lá na clínica de reprodução aguardando o momento certo de despertar – ele já
é capaz de fazer brotar os sentimentos mais lindos e puros em todos aqueles que
conhecem a nossa história. Meu filho é o meu sonho real. Se hoje a minha vida é
incerta, a dele não.
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