Como eu queria trazer novidades
boas, notícias diferentes que não fossem relacionadas a minha doença, mas
infelizmente a realidade é outra e bem dura. Estou um pouco sumida daqui porque
os efeitos colaterais da quimioterapia são terríveis, me sinto muito mais
indisposta e até o meu humor tem oscilado. Não tenho palavras para agradecer
tanto carinho e dedicação vinda do meu marido, dos meus pais e da minha irmã Júlia.
Acho que não falei deles aqui ainda, né? Meu pai se chama Heitor e minha mãe
Maria Regina. A Júlia, minha irmã, é mais nova que eu pouco tempo, ela tem 26
anos, com essa pequena diferença de idade crescemos praticamente juntas, num
misto de companheirismo e brigas – coisas de irmãs. Sinceramente eu não fazia a
menor ideia do quanto era amada e querida pela minha família até me encontrar
desse jeito, tão debilitada. Mesmo sabendo que sempre os amei demais e fiz todo
o possível para estar presente em todos os momentos, hoje olho para trás e
quero ainda mais. Mais deles na minha vida, mais deles nos domingos a tarde
depois do almoço jogados no sofá, mais deles em viagens para a praia no final do ano, mais
deles nos meus sonhos para o futuro, mais deles juntos com meu filho ou filha.
Confesso que tem dias que estou
mais confiante, contudo hoje não é um deles. Diante de uma notícia não muito
animadora da equipe médica o que me mantem forte neste momento é a minha fé. O câncer
já atingiu meus nódulos linfáticos e o fígado, estou extremamente debilitada, a
Leucemia Mielóide Aguda tem rápida progressão e eu preciso responder bem ao
tratamento. Não existe previsão alguma de eu sair do hospital. Já tive crises
de choro intensas até vomitar, já neguei a situação e questionei o destino, mas
sempre que penso que o meu próximo passo depois da cura é ter meu filho a
vontade de viver toma conta de mim. Não há outra razão para me fortalecer, para
me fazer querer viver depois de tanto sofrimento. Ele é a razão para eu lutar e
resistir, mesmo diante de um quadro clínico pouco otimista.
Peço que rezem por mim e pela
minha saúde, estou aumentando a minha fé e acreditando na minha melhora
progressiva. O André está desolado, consigo perceber nos seus olhos o desespero,
mas sempre ao meu lado e me apoiando. E eu sigo com fé, buscando forças e
acreditando na minha cura. Sei que existe um destino lindo que me espera,
existe uma vida me aguardando lá na clínica de reprodução humana e é por ela
que luto todos os dias, porque ela é o meu sonho e mais que nunca a razão da
minha vida.
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